O espectro contínuo entre Mutualismo e Parasitismo: Como moluscos lucinídeos podem ajudar a elucidar o modo em que os animais convivem com microrganismos benéficos e patogênicos.
Phacoides pectinatus; químio-simbiose; bivalves; sistema imune inato; invertebrados.
Animais invertebrados desafiam os limites ao estabelecer e manter relações complexas com microrganismos, utilizando-se apenas do sistema imune inato. A espécie de bivalve lucinídeos Phacoides pectinatus apresenta uma relação simbiótica altamente específica e provavelmente obrigatória com bactérias endo simbiontes quimiossintéticas. O estudo das respostas imunológicas desse molusco aprofundará a compreensão da espécie, além de ter potencial de revelar os mecanismos inerentes ao sistema imunológico inato dos invertebrados aquáticos. Este trabalho teve por objetivo avaliar a resposta imune de P. pectinatus, frente ao desafio com uma cepa de bactéria considerada patogênica para invertebrados marinhos (Vibrio parahaemolyticus) e com a cepa simbiótica (benéfica). Para responder essa questão, testamos diferentes protocolos de isolamento do simbionte, variando a constituição de meio, higienização e maceração do tecido, temperatura de incubação e entre outros. Ao longo dos testes, foram isoladas cinco cepas candidatas, isto é, com características esperadas tais como Gram negativas e crescimento melhor em meio contendo fragmento de brânquia, no entanto após a identificação por sequenciamento do gene da subunidade 16S rRNA, constatou-se que eram apenas bactérias comensais. Assim, novas adaptações foram realizadas e culminaram no seguinte protocolo: coleta do tecido branquial, seguido de maceração e homogeneização em solução salina estéril (SSE, 1% NaCl). Posteriormente, o tecido é lavado, com SSE e álcool 70% (3x). Uma amostra desse tecido é então inoculada em placas com meio de cultura composto por 20% de sacarose; 1,58% de tiossulfato, 2% de brânquia esterilizada e 1,5% ágar. As placas são então incubadas em estufa bacteriológica a 35º C. Após uma semana de incubação, foram observadas colônias candidatas a bactérias simbióticas, apresentando características desejadas tais como crescimento lento, heterogeneidade de tamanho, além das características descritas acima. Esta cepa encontra-se em fase de isolamento para envio para identificação. Paralelamente, foi realizado um desafio com a cepa de V. parahaemolyticus para avaliar seu potencial patogênico para P. pectinatus e a concentração letal 50% (CL 50%). O ensaio contou com 60 moluscos adquiridos com pescadores em Paranaguá, Paraná, Brasil, os quais foram aclimatadas em água do mar artificial (20 ppt) a 26º C em tanques de 60 L, por uma semana. A água foi renovada a cada dois dias. O desafio foi realizado com três tratamentos doses, 0 (apenas SSE), 1,5 x 104 UFC mL-1 e 1,5 x 108 UFC mL-1. Os animais inoculados no músculo adutor posterior com 100 µL da respectiva dose. A mortalidade foi monitorada a cada 6 horas ao longo de toda a infecção. As amostras de hemolinfa e coletas de brânquias para análise histopatológica foram obtidas nos dias 1 e 5 após o início da infecção. O tratamento 1,5 x 108 UFC mL-1 apresentou maior mortalidade após a infecção. Vários parâmetros hemato-imunológicos foram selecionados para avaliação dos diferentes grupos: hemogramas, produção de espécies reativas de oxigênio, atividade fagocítica, antimicrobiana e da enzima fenoloxidase (PO) e estão em processamento.