Redução do uso de antimicrobianos para o controle da enterite proliferativa em suínos a partir da vacinação intramuscular contra Lawsonia intracellularis.
Antibióticos, Ileíte; Resistência bacteriana; Saúde única; Vacinação
Na suinocultura, doenças entéricas como a enterite proliferativa são profilaticamente tratadas através da adição de antimicrobianos em doses subterapêuticas na ração fornecida aos animais. No entanto, a utilização de antimicrobianos em larga escala contribui para o surgimento de bactérias multirresistentes. Nesse sentido, a vacinação pode destacar-se como uma importante medida de prevenção da enterite proliferativa em suínos, com potencial contribuição para reduzir o uso de antimicrobianos na produção animal e, consequentemente, para promover os princípios da saúde única. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a vacinação intramuscular para Lawsonia intracellularis em suínos como estratégia para a remoção do uso de antimicrobianos contra este agente, via ração, ao longo das fases de creche, crescimento e terminação. Para isso, foram selecionados 900 leitões machos desmamados aos 28 d de idade, os quais foram pesados individualmente e, de acordo com o peso, distribuídos nos seguintes tratamentos: T1: não vacinado medicado (leitões não vacinados para L. intracellularis e alimentados com ração com adição de antimicrobianos contra o agente); T2: vacinado medicado (leitões vacinados para L. intracellularis e alimentados com ração com adição de antimicrobianos contra o agente); T3: vacinado não medicado (leitões vacinados para L. intracellularis e alimentados com ração sem adição de antimicrobianos contra o agente). A vacinação ocorreu por via intramuscular no segundo dia de alojamento utilizando a Porcilis ileitis® (MSD Saúde Animal). Os animais foram acompanhados ao longo da fase de creche (n=900) e crescimento e terminação (n=792), e subamostras de cada tratamento (n=30) foram avaliadas quanto à concentração sérica de IgG anti-L. intracellularis (aos 29, 49, 65, 98, 128 e 175 d de idade) e à excreção do agente nas fezes (qPCR; aos 49, 65, 98, 128 e 175 d de idade). Além disso, foram avaliadas variáveis como ganho de peso médio diário (GPD), conversão alimentar (CA), ocorrência de intervenções medicamentosas, consumo e custo de antimicrobianos via ração e mortalidade. Durante o abate, o índice de pneumonia e pleurisia (IPP) foi registrado. Não se observou diferença entre os tratamentos quanto à excreção fecal de L. intracellularis e, conforme o esperado, os grupos T2 e T3 apresentaram maior percentual de soroconversão. O GPD dos leitões do grupo T3 durante a fase de creche foi menor (350,1 g) em relação aos demais grupos (T1: 387,5 g e T2: 385,0 g; P<0,01), contudo, sem diferenças na fase de crescimento e terminação (P=0,37). A CA não diferiu entre os tratamentos nas fases de creche (P=0,56) ou crescimento e terminação (P=0,23). O percentual de animais medicados bem como a mortalidade em ambas as fases não diferiram entre os tratamentos (P≥0,13). No grupo T3 o consumo e o custo de antimicrobianos via ração nas fases de creche, crescimento e terminação foi 70% menor em relação aos grupos T1 e T2. Em relação ao IPP, todos os grupos apresentaram pneumonia, mas sem significativa ameaça ao plantel (índices de 0,56 a 0,89). Conclui-se, portanto, que a vacinação contra L. intracellularis pode ser considerada como uma efetiva e potencial estratégia para substituir o uso profilático de antimicrobianos na produção de suínos, sem prejuízos à sanidade ou ao desempenho dos animais.